quarta-feira, 21 de abril de 2010

A ciência e o entendimento

     Em priscas eras, o homem acreditava que enchentes, secas, erupções vulcânicas e desastres naturais em geral eram provocados pela ira divina. Era uma forma simples de explicar aquilo que não entendia, dada sua condição pré-científica.
    Mais tarde, sua própria evolução permitiu que, mesmo acreditando no divino, compreendesse melhor os fenômenos da natureza e a eles pudesse dar explicações.
     A tendência à busca do mito como forma de justificar situações cuja causa foge à esfera de conhecimento até então existente em determinado grupo é antológica. Exemplo disto é o que recentemente vimos, quando pessoas saíram em defesa de adolescentes que, aos domingos, sob o argumento da diversão, reunem-se em Porto Alegre para, em estados artificialmente alterados de ânimo, dar vazão a emoções das mais variadas, ignorando limites estabelecidos socialmente.     

        O assunto, como não poderia deixar de acontecer, chamou a atenção da maior parte da população, que estarrecida assistiu as imagens das “reuniões” pela TV. Desnecessário repetir-se aqui o que é feito pelos jovens nas proximidades de certo centro de comércio da Capital, pois os fatos se tornaram notórios.     
     
         Não se trata aqui de julgar condutas individuais ou coletivas. Mas não se pode ignorar as vozes que se ergueram ao redor do assunto, e sobre elas refletir.  
      De um lado, vimos vizinhos, transeuntes e comerciantes das cercanias do lugar escolhido para tais encontros dominicais expressarem sua indignação, diante das cenas protagonizadas pelos participantes das “festas”. Incomodados por serem obrigados a ver o consumo de drogas e a prática de atos obscenos diante de suas janelas, protestaram. 
     De outro, tentando explicar a conduta em questão, surgiu e foi defendida a hipótese de que as reações sociais aos atos dos adolescentes eram fundadas em mero preconceito contra os gays. Em outras palavras, por essa teoria, todos os que reclamaram deveriam aceitar o comportamento visivelmente contrário aos hábitos sociais, e em certos casos ao ordenamento jurídico, porque senão seriam tachados de intolerantes e preconceituosos contra os homossexuais. 
     Evidentemente, a indignação da sociedade diante do problema não é mero preconceito contra orientação sexual dos envolvidos. Acreditar que fosse isto seria admitir o mito como explicação simplista do fato. Porém, a questão requer análise muito mais aprofundada.  
  
     Atualmente, a sociedade brasileira vive momento em que o homossexual busca espaço maior de aceitação de sua escolha pessoal, encontrando apoio nos meios de comunicação. Vemos artistas famosos revelando publicamente sua preferência, por vezes causando espanto, mas raramente sendo rechaçados por isso. Possivelmente porque essas celebridades, embora assumam sua opção sexual, preservam sua intimidade. 

     Coexistem homos e heteros, sem maiores problemas, até onde sei, e o preconceito é invocado como forma de justificar condutas extremas, onde se tenta impor à sociedade um padrão de comportamento que foge às regras do bom convívio. Por vezes, temerosos de represálias, os ofendidos se calam. 
     Porém, as indagações que pairam sobre o Rio Grande do Sul saltam aos olhos: será a tolerância a solução? Será que, para evitar-se a pecha do preconceito, será melhor silenciar e deixar o barco correr? Que tipo de base familiar temos hoje em nossa sociedade? O que esperar do futuro? 
     Por certo a omissão, neste caso, não será benéfica e terá reflexos no futuro. O conflito social posto somente poderá ser resolvido por meio de ações eficazes, empreendidas pelos detentores da atribuição legal para tanto. 
    Vamos aguardar os próximos capítulos.

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